ERA UMA VEZ um pobre lenhador que tinha uma mulher e sete filhas. Ele trabalhava bastante, mas, apesar disso, continuava muito pobre. Assim se passaram vários anos.
Um dia, a cortar árvores, de repente viu à sua frente um homem negro que lhe perguntou:
— Por que o senhor me corta a cabeça todos os dias?
A resposta do lenhador foi:
— Senhor, tenho em casa uma mulher e sete filhas para alimentar. Derrubar árvores é o único meio que sei de conseguir dinheiro. Vendo a madeira e assim não morremos de fome, embora passemos necessidades.
O coração do negro transbordou de piedade.
Disse: — Dar-lhe-ei um moinho de café que produzirá tanta comida quanto o desejar. Mas não venha aqui novamente.
O lenhador chorou de alegria, beijou o negro, bendisse-o e agradeceu-lhe. Pegou nas ferramentas e no moinho de café e dirigiu-se para casa. Durante o caminho, descansou e, como estava com fome, decidiu experimentar o moinho. Disse: — Moinho, dá-me arroz, carne e pão.
E dizendo isto, fechou os olhos. Quando os abriu, encontrou a comida à sua frente. Terminou a refeição e encaminhou-se rapidamente para casa.
Contou à família, alegremente, sobre a aparição do negro e o seu presente maravilhoso. E toda a família agradeceu a Deus no Céu pela sua misericórdia e providência.
Imediatamente, desejaram uma refeição saudável e substancial. E lá estava ela. Assim viveram felizes a semana inteira.
Na vizinhança, vivia uma velhinha que os visitava de vez em quando. Um dia, uma semana depois de o lenhador ter trazido para casa o moinho, apareceu ela para visitá-los e, como de costume, perguntou-lhes:
— Como vão as coisas?
Uma das filhas gabou-se: — Muito bem. O pai não trabalha mais. Temos um moinho maravilhoso, que nos dá tudo o que desejamos.
Assim, a velhinha decidiu conseguir esse moinho para si. Um dia, visitou-os novamente quando outra filha estava em casa. Pediu-lhe o moinho emprestado, pois ela queria moer alguns grãos de café e não possuía moinho. — Devolverei o moinho dentro de umas três horas — prometeu. E o moinho foi-lhe entregue. É claro que, em vez de devolver o moinho milagroso, trouxe de volta um moinho qualquer, apesar de ser quase idêntico ao moinho do lenhador.
O pai voltou à noite, dirigiu-se ao moinho na forma costumeira, mas, por Deus!, o moinho não funcionou. As filhas contaram-lhe sobre a visita da velhinha e o pai deu-lhes uma boa tareia. Naquela noite, comeram os restos da refeição anterior e, no dia seguinte, ele pegou nas ferramentas e foi novamente à floresta para abater árvores.
Começou a cortar a primeira árvore — e, novamente, quem aparece? Ninguém mais ninguém menos que o homem negro!
E ele disse ao lenhador:
— Não lhe dei um moinho maravilhoso, a fim de que o senhor não aparecesse mais aqui? Por que está a cortar-me a cabeça novamente?
O lenhador respondeu: — Senhor, as minhas estúpidas filhas deram o moinho a uma velhinha e ela não o devolveu. Por isso, preciso de voltar a trabalhar.
O negro pensou um momento e disse: — Vou dar-lhe uma segunda oportunidade. Aqui está uma bandeja que produzirá quanto dinheiro o senhor desejar. Mas não volte mais aqui.
Encheu-se novamente de alegria o coração do lenhador. No caminho, experimentou a bandeja:
— Bandeja, bandeja, dá-me dinheiro!
— E lá estavam moedas de ouro e de prata. Novamente contou à mulher e às filhas o seu segundo encontro com o negro, e novamente todos agradeceram a Deus no Céu pela sua misericórdia e benevolência. Desta vez o lenhador avisou-as a todas que não emprestassem a bandeja a vizinho algum.
Passou-se uma semana em alegria e fartura, de novo apareceu a velhinha para fazer uma visita. E outra vez o lenhador não estava em casa. Traiçoeiramente, ela deu a volta à mulher e às filhas do lenhador, e vocês sabem muito bem como as mulheres são conversadoras e como adoram tagarelar! E acreditem ou não, ao sair da casa do lenhador, levava consigo a bandeja emprestada.
Imaginem a fúria do pai quando chegou a casa. Quase morreu de raiva. Desculpas como:
“A mulher deixou-nos confusas” não adiantaram nada. Mulher e filhas foram espancadas duramente, como bem mereciam. E, na manhã seguinte, o lenhador pegou nas suas ferramentas e dirigiu-se novamente à floresta.
Começou a cortar a sua primeira árvore — e, novamente, quem apareceu? Naturalmente, ninguém mais ninguém menos que o homem negro! O lenhador contou-lhe então a história toda, e o negro disse-lhe: — Dei-lhe duas oportunidades, e o senhor desperdiçou-as. Aqui está a sua última chance. Vou dar-lhe este bastão. Se ele estiver próximo de uma pessoa sem roupa, ele baterá até o senhor dizer “Basta!” Primeiramente, bata em si mesmo, depois na sua mulher e nas suas filhas, e em seguida na velha que é sua vizinha.
O lenhador voltou para casa, despiu-se e recebeu uma boa tareia, até que ordenou “Basta!” Depois disse à mulher e às filhas:
— Hoje, tenho uma coisa maravilhosa para vocês. É um bastão que dá coisas muito boas. Entrem, uma a uma, no quarto e tirem a roupa.
As mulheres ficaram muito contentes. Uma a uma, entraram no quarto, tiraram a roupa e receberam uma valente tareia até que o pai ordenou “Basta!”
No dia seguinte, a velha apareceu de novo para uma visita e fez a pergunta costumeira:
— Como vão as coisas? — Como era natural, contaram-lhe sobre o bastão maravilhoso. E, quando deixou a casa, a velhinha levava consigo o bastão.
Passaram-se alguns dias, e a velha não voltava. Foram então visitá-la, entraram pela casa adentro e encontraram-na morta. Compreenderam então o que tinha acontecido.
A mulher não soubera parar o bastão; assim, fora espancada até à morte. Naturalmente, encontraram o moinho e a bandeja e levaram ambos para casa.
Desde então viveram felizes e com fartura.
(Conto tradicional)